O Centro Ciência Viva do Lousal, instalou uma estação meteorológica no Lousal no passado dia 14 de dezembro de 2021. A aquisição deste aparelho, prevista pelo LIFE RIBERMINE, permitirá o registo e análise de diversas variáveis climáticas – em particular a precipitação e a temperatura -, um conhecimento muito fiel do regime climático local, e, a sua correlação com diversos aspetos físicos e geofísicos ocorrentes na área intervencionada (Projeto Piloto do Lousal), nomeadamente a evolução do relevo, a humidade do solo, o desenvolvimento da vegetação, as formas de erosão, entre outras.
Estação meteorológica do Lousal – LIFE RIBERMINE, instalada na antiga “casa da balança”. Foto: @BrunoGonçalves
A caraterização climática é extremamente importante, e, a seleção de espécies da flora para os trabalhos de restauração ecológica, teve em conta a sua adaptação às condições climáticas locais e regionais.
Visto que até à data não existiam dados pontuais para a localidade do Lousal, para a caraterização climática atual, elaborada para o “Plano de Restauração do Lousal” (documento que deu as diretrizes para a implementação do Projeto Piloto do Lousal) foram consultados e cruzados dados provenientes de diversas fontes (“Folha 42-B Azinheira de Barros”, dados das estações meteorológicas do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, SNIRH, para o período entre 1982 e 2007, e, a “Revisão do Plano Diretor Municipal de Grândola, Plano de Caraterização”, 2015). Utilizaram-se as séries de observações de quatro estações do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, IPMA, I.P: Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Alvalade.
Pormenor estação meteorológica do Lousal. Foto: @BrunoGonçalves
Usando os dados da estação Climatológica de Grândola e da estação Udométrica de Azinheira de Barros, calculou-se o balanço climatológico da água no solo (considera-se uma capacidade de água utilizável de 100mm) e o valor anual de evapotranspiração real (EVR). Segundo MENDES & BETTENCOURT (1980), esta área apresenta uma precipitação média entre 595,3mm/ano e 530,2mm/ano, que diminui de Oeste para Leste (o Lousal situa-se a Leste), com um forte défice de água no Verão. O clima classifica-se como Sub-húmido Seco, 2º. Mesotérmico, com défice de água moderado no Verão e pequena eficácia térmica nesta estação.
Para a estação de Azinheira de Barros, o período de maior precipitação verifica-se no trimestre de outubro a dezembro, com 47% da precipitação anual. A temperatura média do ar anual é de 16,2ºC, verificando-se valores médios mensais mais baixos de dezembro a fevereiro (cerca de 9º – 10 ºC), e valores mais altos de junho a setembro (20º – 23ºC).
Todos os meses apresentam valores médios de temperatura superiores a 10 Cº (abaixo deste limiar o saldo metabólico do coberto vegetal torna-se negativo). Destaca-se a baixa amplitude térmica entre os meses mais frios (dezembro e janeiro, como temperaturas médias de 10,1 ºC) e o mês mais quente (agosto, com 22,6 ºC), de 12,5 ºC, denotando os efeitos sazonais da inércia térmica do oceano vizinho.
No Diagrama Ombrotérmico de Grândola, elaborado de acordo com RIVAS-MARTÍNEZ (2005), onde consta o cruzamento dos dados de precipitação e temperatura, ao longo dos meses do ano, pode-se confirmar da variação da disponibilidade hídrica para o coberto vegetal: quando as barras (ou linhas) da precipitação se encontram abaixo da linha da temperatura, o solo das meias encostas sofre défice hídrico, havendo mais água disponível sempre que sucede a situação oposta.
Localização das estações climatológicas utilizadas para a caraterização climática do concelho de Grândola (adapt. de: “RPDMG-PC”, CMG, 2015”).
Observa-se que nos meses de março a setembro (meses mais quentes do ano) a linha da temperatura (a vermelho) excede a da precipitação (a azul), refletindo elevada evapotranspiração e défice de humidade no solo. Em termos climatológicos, a região é caraterizada por grandes carências hídricas, com uma precipitação escassa e um défice hídrico nos meses mais quentes do ano.
De acordo com COSTA et al. (1999) podemos detetar o Padrão Mediterrânico de um clima, através da coincidência do período quente do ano, com o seu período mais seco, o que origina sempre meses em que a curva da temperatura tem valores superiores à curva da precipitação (os chamados meses secos).
Assim, o Diagrama Ombrotérmico de Grândola denota um caraterístico Clima de Tipo Mediterrânico que se carateriza precisamente pela ocorrência de, pelo menos, 2 meses no ano em que a temperatura é superior à precipitação (P› 2T). Estes meses de época seca são coincidentes com o Verão ou Estio, sendo aqueles em que é mais provável a ocorrência de fogos nos ecossistemas, condicionando as atividades agrícolas e silvícolas. Em outras estações do ano, podem ocorrer excessos de água.
Cabe aqui uma nota sobre a precipitação no Sul do concelho de Grândola. Embora a precipitação nas vertentes inferiores da Serra de Grândola seja abundante, como se irá detalhar adiante, o facto de se apresentarem revestidas de solos esqueléticos (ou litossolos, segundo a classificação pedológica portuguesa), inibe o armazenamento de água na camada arável do solo (a sua capacidade de campo para retenção é reduzida), condicionando a disponibilidade desse recurso para o coberto vegetal. Por outro lado, o Lousal possui particularidades geográficas, que lhe conferem uma menor disponibilidade de precipitação, ocorrendo esporádicos episódios de chuvas torrenciais, em períodos curtos e muito intensos, predominando ao longo do ano as épocas de maior carência hídrica. Este facto também potencia fenómenos como a erosão.
Diagrama Ombrotérmico de Grândola (adaptado de: “RPDMG-PC, 2015”).
Segundo o Sistema de Classificação Bioclimática Mundial (RIVAS-MARTÍNEZ, 1996-2009), praticamente todo o Sul de Portugal (exceto duas áreas no Algarve), situa-se no Bioclima Mediterrânico Pluviestacional Oceânico. Ainda de acordo com este Sistema de Classificação, situa-se na Cintura Termoclimática Termomediterrânica.
No concelho de Grândola, ocorrem os Termotipos “Mesomediterânico” e “Termomediterrânico”: o primeiro predomina na serra de Grândola, de altitudes mais elevadas; o Termotipo Termomediterrânico ocorre nas terras baixas, incluindo o Lousal que corresponde ao Termotipo Termomediterrânico Superior.
No concelho de Grândola, ocorrem os Ombrotipos “Sub-húmido” (precipitação anual compreendida entre 1000mm e 600mm) na serra de Grândola, de altitudes mais elevadas, e “Seco” (precipitação anual entre 600 mm e 350 mm) no restante território, de terras baixas. Desta forma, o Lousal inclui-se no Ombrotipo Seco Superior.
Com a instalação da estação meteorológica no Lousal, que se pretende vir a integrar a Rede Nacional (portuguesa) de Estações Meteorológicas, será possível obter dados específicos sobre o local, e, ainda criar um módulo interativo no CCVLousal – LIFE RIBERMINE, vocacionada para o Clima, onde o público poderá explorar os dados que serão emitidos em contínuo para um computador, e, aprender mais sobre estas matérias.
A disponibilidade hídrica é fundamental para o desenvolvimento do coberto vegetal. Na foto observam-se algumas plantas já germinadas, a partir da sementeira feita em finais de outubro, na área do Projeto Piloto do Lousal. Foto: @BrunoGonçalves
Bibliografia consultada
– CMG (CÂMARA MUNICIPAL DE GRÂNDOLA) (2015) – “Revisão do Plano Diretor Municipal de Grândola, Plano de Caraterização – RPDMG-PC”.
– COSTA, J.C., AGUIAR C., CAPELO, J., LOUSÃ, M. & NETO, C. (1999) – “Biogeografia de Portugal Continental”. Quercetea 0 :5-56.
– MARTINS, M., SÁNCHEZ DONOSO, R., MARTÍN DUQUE, J.M.F., MARTÍN MORENO, C., LILLO RAMOS, F.J., TEJEDOR PALOMINO, M., VILLA ALBARES, J., PEREIRA, A.M., OLIVEIRA, M., PAIS, V., COSTA, J., PINTO, A.M. & RELVAS, J.M.R. (2021) – “Plano de Restauração do Lousal / LIFE RIBERMINE”. CCVLousal. xiv + 166 pp. ISBN: 978-989-54904-0-0
– MENDES, C. BETTENCOURT, M.L. (1980) – “O clima de Portugal. Contribuição para o estudo do balanço climatológico de água no solo e classificação climática de Portugal continental”. Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, XXIV, 287.
– OLIVEIRA, J.T., FERNANDES, P., PAIS, J. & DIAS, R. (2013) – “Notícia explicativa da folha 42-B Azinheira de Barros”. Unidade de Geologia e Cartografia Geológica, Laboratório Nacional de Energia e Geologia. Lisboa, 48 pp.
– RIVAS-MARTÍNEZ, S. (2005) – “Memoria del Mapa de Vegetación de España”. Itinera Geobotánica 17. Universidad de León.
– RIVAS-MARTÍNEZ, S. (1996-2009) “Sistema de Clasificación Bioclimática Mundial”. Centro de Investigaciones Fitosociológicas, Madrid (http://webs.ucm.es/info/cif/form/maps.htm)